terça-feira, 20 de outubro de 2009

Coisas que eu ainda não aprendi


São 01:47 da manhã e aqui estou eu. Eu deveria estar estudando Nefrologia. Tenho prova na quarta (sim, depois de amanhã!) e ainda não estudei nada. Tá certo, já li 4 páginas, mas me diz: 4 de 100 é alguma coisa? Claro que não! Mas enfim, o caso é que eu deveria estar estudando. Alias, já deveria ter estudado, mas ainda não estudei. É mais ou menos esse o motivo de eu estar aqui.

Hoje foi o último dia do módulo de Urologia. Vou sentir falta, não apenas pelo lado acadêmico, porque era uma disciplina muito bem ministrada na parte prática e também muito boa na parte teórica, mas também pelo lado pessoal. Sabe, existem certas pessoas que conhecemos na vida que realmente nos marcam. Tive o prazer de ter encontrado, em meio a alguns terríveis professores na universidade, uns que são dignos de serem chamados 'mestres', que realmente você vê e pensa 'eu quero ser assim quando eu crescer'. Pessoas honradas, corretas, éticas. Não digo que essas pessoas são perfeitas, que não têm defeitos. Claro que têm. Mas o que eu posso dizer, e digo, é que são pessoas que se esforçam para ser o melhor que seria possível ser. E que não se contentam em apenas 'ser', mas que também passam adiante importantes ensinamentos de vida.

Assim explico a falta que a Uro vai me fazer. Sentirei saudades dos puxões de orelha semanais, dos sermões bem dados e merecidos e, acima de tudo, justos, dos questionamentos de conduta e caráter, das discussões sérias e firmes sobre a medicina e a vida.

Devo admitir que eu sou uma aluna muito medíocre. Me dói bastante admitir isso, e ainda mais falar ao mundo isso, mas isso é um fato. Não, eu não me orgulho disso. Mas eu não sei mudar isso. [...] MENTIRA. Claro que eu sei como mudar isso, mas a verdade é que me falta vontade de mudar isso. Sabe, a falta que eu vou sentir de Uro passa por aí. Todos os dias que eu ia a aula, e o professor nos falava de seriedade, compromisso, responsabilidade, respeito, dignidade, enfim, de todas as características que deveríamos ter, eu sentia uma pontada, um dedo (meu próprio!), uma vozinha do anjinho que sempre me acompanha, sobre meu ombro direito, dizendo 'viiu? isso é pra você! está ouvindo tudo direitinho?'. Sério, as aulas desse meu professor sempre me deixavam arrasada. Sabe aquelas pessoas que têm a capacidade de te detonar, sem nem ao menos levantar a voz, ou apontar o dedo na cara, ou agredir? Pois é, assim é esse meu professor. Sua única arma: a verdade, que diga-se de passagem é a mais poderosa e de maior precisão, que apresenta maior capacidade de atingir o alvo. E sempre que eu o ouvia falar, era inevitável: lá estava eu, olhar baixo, coinciência pesada, olhos mareados de lágrimas, coração apertado. Fato. E como dizem, onde há fumaça, há fogo. Nesse caso, eu me enquadrava completamente nas descrições que o dito professor fazia. É, é tenso quando vemos que aquela carapuça feia e que ninguém quer nos cai como uma luva, que não ficaria melhor em ninguém a não ser em nós mesmos, como se tivesse sido feita sob medida. É, é muito tenso.

Só que eu sou muito falsa. Sério. Eu acho que eu não presto. Entendam-me, não estou exagerando, estou apenas sendo sincera, e realista. E sabe porque eu digo isso? Porque apesar de tudo isso, de saber que eu estava errada, e de que eu deveria mudar, após um tempinho, meu sentimento de culpa simplesmente era empurrado pra um compartimento qualquer da minha cabeça, e lá esquecido por mais um tempo, até que outro o provocasse e ele mais uma vez viesse inundar minha alma de tristeza e insatisfação perante a minha realidade. Mas bastava nova chance, e lá se ia minha conciência ser escondida. Ê falsidade.

Antes eu me perguntava: como pode alguém saber que está fazendo o que é errado, e continuar fazendo o errado? Eu simplesmente não conseguia entender como isso podia acontecer. Na verdade, continuo sem entender, mas acabei sendo levada a constatar que tal situação pode existir. E aqui estou eu para comprovar isso. Sério, nunca vi pessoa mais errada do que eu. E o pior: estou ficando cada vez pior.

Sabe, sinto saudades do meu tempo pré-universitário. Engraçado é que todos, ou quase todos, que estudam comigo falam 'creeedo! Deus-me-livre de voltar pra aquilo de antes da universidade', mas comigo é diferente. Provavelmente isso se deva ao fato de eu, por imensa sorte do destino e por maior ainda vontade divina, passei no vestibular de primeira, enquanto que muitos passam mais de ano em cursinho para entrar na universidade. Às vezes eu penso que teria sido melhor se eu tivesse penado um pouco mais, sofrido um pouco mais, pois assim talvez eu valorizasse mais o que eu tenho, e cuidasse de melhor forma de tudo. A saudade que eu sinto do meu tempo pré-universidade se explica pelo fato de que, naquela época, eu era totalmente diferente do que sou hoje. Tá, totalmente totalmente assim, não né? Impossível. Mas vamos dizer que eu mudei bastante. Claro que a situação era outra né? O período do vestibular é sempre muito tenso. A pressão é muito grande, e é explícita, e vem de todos os lados, inclusive de dentro da gente, de forma que não há como se esconder. O efeito provocado pelo vestibular acaba sendo passado pra gente por osmose mesmo, porque é muito intenso. Lembro que eu sofria horrores. Primeiro porque eu não sabia que curso escolher. Depois de escolher, sempre ficava aquela dúvida 'será que é isso mesmo que eu quero?'. Mas eu acabei descobrindo que essa pergunta era só uma forma de tentar esconder meu possível fracasso, pois se eu falhasse eu poderia dizer 'ah, mas não era o que eu queria mesmo'. Aii aii, completamente típico de mim. Mas de qualquer forma posso dizer que eu era uma aluna esforçada. Nunca fui das mais CDFs, de estudar direto, nem ver tv, ler ler ler e ler, e exercícios, e provas da internet .. aaaaaaaaah ! Eu não, João ! Sério, eu só comecei a levar a sério mesmo no meu 3º ano, no Convênio. E apesar de não ser CDF³, eu até era boa aluna. Me organizava pra estudar, e conseguia respeitar os horários que eu impunha pra mim; fazia aula particular pra estudar algumas matérias que não estavam sendo dadas no colégio, mas que seriam cobradas no vestibular; fazia cursinho pré-vestibular de noite, sendo que eu ia todos os dias, mais sábados e domingos e feriados, quando havia aula. Mas uma coisa eu admito: eu quase não conseguia estudar de noite, o que me deixava completamente frustrada. Sério, eu chorava de tristeza/raiva/desespero por não conseguir ficar acordada pra ler o maldito capítulo de História. Naquela época eu não me achava grande coisa não. Eu tinha amigas milhares de vezes mais esforçadas que eu. Eu sempre conversava com elas, justamente pra ter o bom exemplo, sabe? Pra ter a sementinha do bem sendo plantada em mim. Hoje, relembrando dessa época, eu sinto saudades de ser assim. Logo que eu comecei na universidade, eu era um pouco assim ainda. Mas era difícil, porque eu tinha aula de manhã e de tarde, sendo que eu passava o dia fora de casa, saindo pela manhã e só voltando a noite. Daí só dava pra chegar, tomar banho, comer, e fazer alguma besteirinha. Sempre tinha alguma coisa: livro, revista, material pra organizar, fotos pra recordar, música pra ouvir, tv, etc. E, por último, estudar. Eu me organizava e até conseguia estudar um pouco. E mais uma vez, me revoltava sempre que eu estava estudando e, quando me dava conta, eu já estava acordando, com a cara no livro. E isso me aconteceu inúmeras vezes, e inúmeras vezes eu me desesperei. Pensei estar doente, pesquisava possíveis causas para o meu sono tão grande, e para a pequena disposição para os estudos. Colocava a culpa no meu quarto: 'de tarde, quando eu vou estudar, o sol entra direto no quarto, e fica muito quente, e eu não consigo estudar.' Colocava a culpa no horário: 'ah, eu gosto mesmo é de estudar de manhã, não de noite'. Enfim, colocava a culpa em tudo. Por fim, acabou que, com o tempo, me acostumei a seguir o curso natural: deu sono? vamos dormir! cansou? vamos parar um pouco! 

Sei lá, me sinto culpada por não mais sofrer quando eu não consigo estudar até mais tarde. Ou quando não consigo estudar mesmo de tarde, depois de uma dormidinha, ou de manhã, ou em qualquer horário que não deveria apresentar obstáculos ao meu estudo. É, eu meio que já me acostumei, já aceitei que não dá pra estudar se eu estiver assim ou assado, e pronto. Fato, sacas? Bom, mas hoje meu problema é outro.

Eu ainda não consegui fechar o quadro sindrômico por completo. Eu sei que é uma mistura de preguiça, irresponsabilidade, comodismo, falta de interesse, falta de vontade. Na minha opinião, os piores fatores são: falta de responsabilidade e comodismo. É como meu professor diz: 'Como é que você chega no Natal e quer comer um chester, se tudo o que você colocou no forno foi um pintinho muito mixuruca. Você acha que ele, por mágica, vai virar um chester? Claro que não, né? Ele vai ser só um pintinho queimado, e pronto. Não vai ser nada mais além disso.' Eu quero ser uma boa médica. Não apenas boa, mas a melhor possível. Mas me diz: como eu posso querer ser a melhor possível, se eu mesma não procuro isso? não trabalho para que isso aconteça? se eu só fico em casa, na internet, no MSN, no Orkut, no Twitter? hein hein? só me responde isso! Não dá, né? Claro que não! Óbvio que não! E eu sei disso. E o que eu faço? Fico triste, deprimida, choro choro choro, aí passa, e lá estou eu, jogada na cama, na internet. Ê falsidade [2].

Eu não sei. Uma das minhas teorias [e lá venho eu novamente querendo justificar os meus atos errados] é que a internet é o meu escape. Viver longe de casa, longe dos pais, sozinha, é meio complicado. Eu sinceramente já me acostumei, e até já gosto, mas mesmo assim não é, e nem nunca será, como morar com a família, ou com qualquer outra pessoa. É por isso que eu acabo me permitindo fazer algumas coisas, já que eu não tenho outras.

Outra coisa: eu adoro me ocupar com besteiras. Sério. É um problema. Adoro investir meu tempo e minhas energias em coisas que não são muito produtivas, em coisas que podem até ser legais, interessantes, prazerosas, mas que em nada vão me acrescentar para o futuro, ou mesmo na minha vida cotidiana. Exemplo: há pouco tempo eu conheci um programa de televisão, chamado 'CQC', do qual eu gosto muito, e acho muito divertido. Desde então eu cultivei um 'vício' por esse programa, e não apenas por ele, mas também pela galera que o compõe. É divertido? É! É bom pra distrair? É! Me faz bem? Sim! Então é bom, certo? Er .. bem, seria, se eu fosse uma garota mais centrada, mais responsável, que sabe medir as coisas, que sabe o momento de conversar e de interagir, o momento de estudar e trabalhar, o momento de se divertir e aproveitar as pequenas coisas da vida. Longe de mim desmerecer o trabalho das pessoas que fazem esse programa, muito pelo contrário. Eu gosto muito mesmo, e admiro a todos. Só que até que ponto isso pode ser saudável? É como dizem: tudo tem limites; tudo em excesso faz mal. Eu tenho um jeito meio exagerado mesmo. Mas eu tenho que me policiar mais. Talvez seja esse o segredo da vida. Ou pelo menos o segredo pra minha vida, né? 

Eu só espero que tudo aquilo que eu ouvi do meu querido professor não tenha apenas entrado por um ouvido e saído por outro. Eu quero mesmo mudar. Eu quero mesmo ser melhor. Sei que é necessário, e eu meio que conheço o caminho das pedras. O que me falta é coragem pra começar, e encarar o que há por vir. Eu sei que nada vem de graça, e o melhor que estar por vir deve ser batalhado, e buscado com garra e perseverança. Eu só peço que Deus me ajude nessa jornada.


Fiquemos todos bem (: 

Sukα *-)




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